terça-feira, 25 de agosto de 2009

Gritei, ops!


Pois gritei, bati com a régua na mesa e com o apagador também, dei socos no armário de aço e na porta, fui mal educado e mandei calar a boca, fui indelicado e quase disse palavrões, fui injusto e não deixei ir ao banheiro, fui fraco e às vezes desisti da aula, fui impaciente e esperei que resolvessem por mim, fui muita coisa que não queria ser, pois acreditava que com isso estaria consertando algo ou conseguiria fazer com que alguém entendesse ou aceitasse que o que eu tinha pra falar merecia ser ouvido. Erros, erros e mais erros...
Hoje vou terminar por aqui, não por não ter mais o que dizer, mas por estar engasgado e cheio de coisas pra digerir.
Digo apenas que estou em busca de ser professor, não o professor que eu pensei que era, mas o professor que eu preciso ser. O professor que faça sonhar sem falar no futuro, o professor que ensine o currículo exigido e atenda as demandas da realidade dos alunos, o professor que não precise pedir pra dar aulas como se fosse uma caridade. Um professor que se torne uma lembrança em um passado bom. Um professor que prepare o aluno ao menos pra que volte diferente no dia seguinte.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Inclusão"

Fim do horário e primeiro intervalo na sala dos professores. Outra inclusão, tenho uma cadeira e uma portinha no escaninho que no futuro terá o meu nome numa etiqueta com corações. Querem saber o meu nome, em que outra escola eu trabalho e há quantos anos dou aulas, falam de flexibilização, de aposentadoria, de ASMUB, SindUTE subsede Betim, da 32D, da 32B, da 42C, da 31C etc... Alguém de pé dá os informes da assembléia da categoria e o calendário das paralisações que começaria imediatamente.
Já em casa às 16hs. Funcionário público. Mobilizado. Grevista? Boa vida? Sinto-me podado, castrado e sem autoridade e nem conhecimento pra gritar em meu próprio auxilio. Vou dizer mais palavras e narrarei outros dias desta história. Não estou desanimado. Nesta caminhada até o dia de hoje, já encontrei alunos próximos ao meu modelo e já me moldei para alguns outros, tive experiências boas e aprendi coisas muito relevantes, fiz amigos valiosíssimos, conheci outras realidades e dei um presente legal pra minha mãe com meu primeiro salário. Agora em agosto já estou pensando no presente para o papai e em comprar o meu carro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ufa! Acabada a primeira aula.

Bem... Segunda turma do dia e nesta nem sei me fazer ouvir, sou professor substituto, só substituto... Acho que não estou nem substituindo, no meio desta bagunça não sou nem ser humano. De repente e de onde menos se esperava, uma voz viria em meu auxílio "professor você tem que gritar use uma régua pra bater na mesa e mande todo mundo sentar senão você não vai dar atividade nenhuma" . Gritar não me pareceu uma boa idéia. Havia prometido pra mim mesmo em uma consulta com o fonoaudiólogo no SESMT que não eu gritaria e nem forçaria minhas cordas vocais em competição sonora. A palavra “atividade” me soou mais solidária, então inventei um ditado e comecei a dizer umas palavras, aos poucos a turma se acalmava e me via transformando em um daqueles professores que improvisam aula. Frustrado. Sou professor? Quando enfim um número considerável de alunos já me ouvia (e depois descobri que os outros não fariam nada mesmo em aulas futuras) quis conversar com eles e fazer perguntas de sondagem, mas não quis macular aquele sagrado momento em que as palavras que fluíam de minha boca se transformavam em caligrafias múltiplas em seus papéis. Senti-me, no mínimo professor (professorzinho de merda), pois uma mínima transmissão de dados, mesmo que ainda não sendo processados em conhecimento, já acontecia. O simples ato de poder transmitir algo, naquele momento era uma imensa satisfação.

Professor enfim?

Aos 30 anos e de posse de uma vaga de trabalho na função que escolhi, após estudar na faculdade que sonhei e tomar posse do cargo que almejei eu juro que acreditava que estaria realizado profissionalmente e financeiramente. Porém não consigo ser professor, não nos moldes que o meu aluno modelo esperava porque ele não está lá. Financeiramente? Plena campanha salarial, “não querem pagar as nossas perdas salariais”, “acham que devemos pagar a conta pela crise mundial”, “congelaram o plano de carreira”, “suspenderam as férias prêmio”. Será que devo me preocupar com isso agora? Frente a todas as angústias e questionamentos sindicalizei-me e satisfiz-me momentaneamente com esta inclusão, nas assembléias me chamaram de companheiro, sou categoria, sou filiado, voto... Sou professor enfim?