sábado, 13 de fevereiro de 2010

Tchau Arthur Trindade, volto na primeira oportunidade


"Volta às aulas". Entre aspas porque passei o período de farias dando aulas no Programa de Correção de Fluxo alfabetizando crianças de 8 anos (como o meu leitor já sabe). Fim das férias dos alunos e é hora de saber como ficou a reenturmação 2010 e com  quais novas turmas eu irei trabalhar durante o próximo ano letivo.
Trabalhar como professor é sempre uma grande surpresa e realmente não podemos prever o que nos espera.
Ao finalizar o ano de 2009 disse ao pedagogo Geraldo que gostaria muito de iniciar o ano com as turmas de 11 anos. Assim,  poderia impor o meu ritmo de trabalho e acompanhá-los até que se formassem. Isso aconteceria se nenhuma das professoras com mais tempo de escola escolhesse estas turmas ou, por camaradagem , deixassem que eu ficasse com estas turmas. 
Mas na escola a notícia foi que, por causa de uma nova portaria da Secretaria de Educação que diminuiu as aulas de algumas disciplinas e aumentou de outras, eu teria ficado excedente (sem turma nenhuma). Até mesmo perdi a minha lotação que é o local onde o funcionário público exerce as suas funções e responsabilidades. Mais dois amigos, recém empossados estavam na mesma situação.
Por fim, duas alternativas foram dadas: ficar na mesma escola ocupando a lotação de uma professora que estava de laudo médico e poderia voltar a qualquer momento ou ir para outra escola a qual uma professora que passou em um concurso de outra cidade havia deixado a lotação vaga.
Resisti no início, mas optei por trocar de escola, deixei meus mais novos queridos amigos e o afeto que já havia desenvolvido por aquele local e fui atrás da segurança de ter uma lotação.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Uma boa e uma ruim

De volta do recesso, e com a perspectiva de encerrar o Programa de Correção de Fluxo - GEEMPA na escola para a qual eu fui indicado, recebi uma notícia boa. Haviam encontrado um espaço fixo para que o programa tivesse continuidade dentro da escola. Fiquei muito feliz porque eu havia diagnosticado bastante progresso nas crianças do programa e seria realmente uma pena se o encerramento se fizesse necessário. Bem, esta notícia foi a boa, a ótima. A ruim veio em seguida, ao seguir para a sala 20 que foi a sala a qual indicaram, os alunos e eu encontramos o laboratório de informática da escola. Porém ele estava diferente, só havia monitores e teclados sobre as bancadas. Não era a sala de aula mais adequada, mas era uma sala. Descobrimos depois que o motivo de termos aquela sala disponível foi o fato de que a escola sofreu dois arrombamentos durante o recesso. Em um destes arrombamentos levaram todas as CPU's do laboratório. Portanto o uso do laboratório de informática tornou-se inútil pra a escola e a sala ficou ociosa. Saldo: Uma alegria que nos entristeceu ou uma tristeza que nos alegrou.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Trancos e barrancos

Janeiro, poucos dias para a finalização do programa que planeja alfabetizar 100% dos alunos que estão fazendo parte do Programa de Correção de Fluxo da Prefeitura de Betim. Isto, nestes 40 dias que iniciaram na segunda semana de dezembro e terminará na segunda semana de fevereiro, pois, tivemos um recesso para as festas de fim de ano. Bem... Houve situações inesperadas para o início do programa na escola a qual eu fiquei responsável por 18 alunos. A escola não dispunha de espaço livre para atender os alunos no turno contrário ao de suas aulas regulares (manhã), pois, além da escola trabalhar com lotação máxima, por atender mais alunos que a capacidade para a qual foi projetada, ela ainda atende outro programa chamado Escola da Gente que é um tipo de escola de tempo integral em que alunos permanecem dentro da escola para atividades de esporte, lazer e cultura.
Pois bem, durante algumas manhãs eu saí com os alunos, a pé ou de ônibus, da escola até um pequeno salão disponibilizado pelo pastor de uma igreja, mas logo foi muito perceptível que o lugar era inadequado para desenvolver a metodologia proposta. Voltamos a utilizar a escola, entre um espaço e outro (laboratório, biblioteca, mesa de ping-pong, refeitório ou sala de aula) que estivesse disponível eu fui apresentando a proposta de trabalho para os meninos embora a execução do programa na íntegra tenha sido impossibilitado pelo problema do espaço. Agora com as férias dos alunos do ensino regular e também da Escola da Gente, estou utilizando uma sala de aula fixa e o trabalho está sendo desenvolvido mais satisfatoriamente. Tenho onde deixar o alfabeto colado na parede, afixar os meus textos e cartazes, uma mesa e um armário para acomodar os meus materiais e carteiras e cadeiras para a formação dos grupos áulicos, que são grupos de estudo das crianças, fundamentais para a proposta do GEEMPA.
 Perdemos um tempinho, mas eu pude perceber progresso dos alunos e agora vamos seguir em frente contra os possíveis prejuízos. Restam poucos dias e não há perspectiva para conseguirmos um outro local assim que as aulas retornem no dia 26/01.
É também um trabalho um tanto solitário pois os alunos ficam sob a minha responsabilidade em tempo integral (3 horas) e é difícil lidar com situações de indisciplina.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Sensibilizado

Vieram as aulas-entrevista e foi impossível não me sensibilizar com as deficiências apresentadas pelos alunos. Meninos e meninas com três anos de escolaridade em média que ainda não escrevem nem o próprio nome corretamente são os casos mais gritantes além de muitos outros casos que aprendi a classificar muito bem durante o curso do GEEMPA. Pré-silábicos 1, pré-silábicos 2, silábicos e alfabéticos rumo a alfabetização 100% é uma meta ambiciosa, mas também uma meta muito necessária, pois não podemos permitir que esses pequenos cidadãos continuem nesta condição de marginalidade. Sofrendo esta dor que é estar incluído na escola mesmo acreditando não possuir a capacidade de aprender. Será essa a razão de tanta agressividade negativa? Acreditar ser "burro" ou ter uma deficiência neurológica, psicológica ou mesmo física que o empeça de aprender é realmente algo muito doloroso. Ser incluído em um lugar onde não somos acolhidos pode ser mesmo revoltante. Esses alunos precisam mesmo de uma metodologia diferente, ou somente de uma nova oportunidade com atenção especial? Seja lá qual for a resposta, estou sensibilizado com a causa e farei o que for necessário pra contribuir com este programa ao qual me propus. Não que o dinheiro envolvido não seja muito interessante pra mim, mas estou realmente sensibilizado com o programa e ansioso por começar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

O Alfabetizador

Neste mês fui convidado para participar de um programa pra alfabetização de crianças que ocorrerá no final de dezembro e durante o mês de janeiro (férias). Aceitei. A primeira motivação, sem dúvida, foi o dinheiro extra. Então eu abri mão de viajar no mês de janeiro e ainda de várias horas, as quais teria que me dedicar ao curso de formação do GEEMPA. Mas alfabetizar? Bem... Se eu pensar que alguns alunos chegam aos ciclos finais do ensino fundamental ainda não alfabetizados, a idéia poderia contribuir para que eu soubesse fazer algum tipo de "intervenção alfabetizadora" antes que eles saíssem do ensino fundamental e fossem pro ensino médio.
O curso do GEEMPA aconteceu entre os dias 16 e 20 deste mês e eu saí de deste curso muito motivado e acreditando mesmo ser um bom professor alfabetizador, pois criei uma empatia imediata com as metodologias da teoria pós-construtivista para a alfabetização (se bem que eu não estava familiarizado com nenhuma outra metodologia). Acreditar que todos podem aprender apesar de algumas limitações que a medicina e a psicologia possam ter diagnosticado é assumir-se como profissional responsável pela aprendizagem dos alunos. Entender que as pessoas aprendem com os iguais (aluno x aluno) e receber o material pedagógico preparado para desenvolver o programa de alfabetização fez com que eu acreditasse ser um bom alfabetizador. Que venham agora as aulas-entrevista que definirão os alunos que participarão do Programa de Correção de Fluxo da Prefeitura de Betim. Estou ansioso para ver os alunos!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Hahaha, o fessô caiu!

Neste mês do professor, o fato mais marcante foi uma gloriosa queda que tive. Isso mesmo, apesar de ter sido um tombo foi glorioso porque me fez pensar melhor sobre a minha relação com os meus alunos. No intervalo para o recreio eu tentei saltar uma faixa de grama do jardim da escola e não havia percebido que colocaram uma pequena cerca de 20cm de altura em volta do jardim. Quando tentei saltar o meu pé ficou preso nesta cerca e caí, desastrosamente, cravando as unhas no gramado, mas sem maiores consequências. Levantei-me e estava pronto pra continuar o meu caminho quando percebi que alguém havia visto o tombo. Lamentei. Era um aluno da quinta série (1º ano do 2º ciclo) que me dava muito trabalho durante as aulas. Ele simplesmente não se simpatizou comigo desde que pisei na sala pela primeira vez. E agora? Pensei por alguns instantes em repreender o aluno, mas não resisti porque a cena foi realmente hilária. "Entrei na onda" e comecei a rir. Rimos juntos e depois peguei o aluno e o joguei na grama também e foi muito divertido. O intervalo prosseguiu e o dia transcorreu sem problema algum. Ao voltar à turma deste aluno alguns dias depois, pois dou apenas uma aula por semana, continuamos rindo e o aluno contou sobre o acontecido pra turma toda. A turma estava toda atenta e prestavam atenção em cada detalhe da história e também assistiam às minhas reações.O mais surpreendente é que depois de tudo, ao recomeçar a aula, o aluno tirou um caderno da mochila e resolveu fazer a atividade proposta para o dia. Aprendi, com isso, que a afetividade aproxima o aluno do professor e conseqüentemente e maravilhosamente, aproxima o aluno do interesse por aquilo que aquele homem de carne e osso que cai, ri e chora tem pra dizer a ele.(foto: visita ao CEU-UFMG)

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Um professor "light".

Fiz concurso público pra carcereiro e não sabia. O carcereiro tem a vantagem de trancar a porta e ficar de fora com a chave, já o profesosr  deve ficar dentro e ainda tem que manter a ordem. Neste início de setembro está fazendo um calor insuportável, as salas de aulas são muito quentes com seus telhados de amianto e algumas não possuem ventilador. Os alunos ficam mais agitados que nunca e eu que tenho vontade de correr pra fora da sala tenho que dizer pra eles ficarem dentro dela. Não nasci com vocação pra Pavarotti e nem acho justo que o professor fique sem voz, como estou hoje, por ter que gritar sem parar para manter a ordem. durante a semana de prova. Há alunos excelentes e a turma deve ser nivelada para cima pois, não devemos dar aulas em função de quem não quer nada. Se paro a aula pra colocar pra dentro da sala todo e qualquer aluno descomprometido que sai sempre que viro as costas, eu deixo de dar aula pra quem verdadeiramente sabe o motivo de estar ali. Se não posso levar a turma até a biblioteca por causa de um aluno prblemático, como poderei ser um intermediador de leitura para o aluno disciplinado? Não corro atrás de aluno e não grito a não ser em raros casos. É por estas e outras coisas é que sou o professor "light", sou light com os alunos mas sou comigo mesmo principalmente. A escola precisa dar conforto aos alunos e professores, pelo contrário, há salas em que tenho que disputar carteira com alunos porque não há mesa para professores. Me preocupo em dar aulas para os alunos que dentro dessas mazelas sociais ainda terão chance de conseguir algo através dos estudos. Alguns colegas estão reclamando que são demônios, jararacas, entre outras criaturas repressoras e dizem que estão sobrecarregados pois tentam manter a ordem a qualquer custo. Penso que manter a ordem é grandeza inversamente proporcional a dar conteúdo. Estou confuso chateado, penso que não estou servindo para a profissão. Ainda bem que dentro desta confusão toda encontro alunos por quem tenho vontade de voltar lá na escola a cada dia. (na imagem: digitalização de uma atividade - aluna do primeiro ano do terceiro ciclo.)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Gritei, ops!


Pois gritei, bati com a régua na mesa e com o apagador também, dei socos no armário de aço e na porta, fui mal educado e mandei calar a boca, fui indelicado e quase disse palavrões, fui injusto e não deixei ir ao banheiro, fui fraco e às vezes desisti da aula, fui impaciente e esperei que resolvessem por mim, fui muita coisa que não queria ser, pois acreditava que com isso estaria consertando algo ou conseguiria fazer com que alguém entendesse ou aceitasse que o que eu tinha pra falar merecia ser ouvido. Erros, erros e mais erros...
Hoje vou terminar por aqui, não por não ter mais o que dizer, mas por estar engasgado e cheio de coisas pra digerir.
Digo apenas que estou em busca de ser professor, não o professor que eu pensei que era, mas o professor que eu preciso ser. O professor que faça sonhar sem falar no futuro, o professor que ensine o currículo exigido e atenda as demandas da realidade dos alunos, o professor que não precise pedir pra dar aulas como se fosse uma caridade. Um professor que se torne uma lembrança em um passado bom. Um professor que prepare o aluno ao menos pra que volte diferente no dia seguinte.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Inclusão"

Fim do horário e primeiro intervalo na sala dos professores. Outra inclusão, tenho uma cadeira e uma portinha no escaninho que no futuro terá o meu nome numa etiqueta com corações. Querem saber o meu nome, em que outra escola eu trabalho e há quantos anos dou aulas, falam de flexibilização, de aposentadoria, de ASMUB, SindUTE subsede Betim, da 32D, da 32B, da 42C, da 31C etc... Alguém de pé dá os informes da assembléia da categoria e o calendário das paralisações que começaria imediatamente.
Já em casa às 16hs. Funcionário público. Mobilizado. Grevista? Boa vida? Sinto-me podado, castrado e sem autoridade e nem conhecimento pra gritar em meu próprio auxilio. Vou dizer mais palavras e narrarei outros dias desta história. Não estou desanimado. Nesta caminhada até o dia de hoje, já encontrei alunos próximos ao meu modelo e já me moldei para alguns outros, tive experiências boas e aprendi coisas muito relevantes, fiz amigos valiosíssimos, conheci outras realidades e dei um presente legal pra minha mãe com meu primeiro salário. Agora em agosto já estou pensando no presente para o papai e em comprar o meu carro.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Ufa! Acabada a primeira aula.

Bem... Segunda turma do dia e nesta nem sei me fazer ouvir, sou professor substituto, só substituto... Acho que não estou nem substituindo, no meio desta bagunça não sou nem ser humano. De repente e de onde menos se esperava, uma voz viria em meu auxílio "professor você tem que gritar use uma régua pra bater na mesa e mande todo mundo sentar senão você não vai dar atividade nenhuma" . Gritar não me pareceu uma boa idéia. Havia prometido pra mim mesmo em uma consulta com o fonoaudiólogo no SESMT que não eu gritaria e nem forçaria minhas cordas vocais em competição sonora. A palavra “atividade” me soou mais solidária, então inventei um ditado e comecei a dizer umas palavras, aos poucos a turma se acalmava e me via transformando em um daqueles professores que improvisam aula. Frustrado. Sou professor? Quando enfim um número considerável de alunos já me ouvia (e depois descobri que os outros não fariam nada mesmo em aulas futuras) quis conversar com eles e fazer perguntas de sondagem, mas não quis macular aquele sagrado momento em que as palavras que fluíam de minha boca se transformavam em caligrafias múltiplas em seus papéis. Senti-me, no mínimo professor (professorzinho de merda), pois uma mínima transmissão de dados, mesmo que ainda não sendo processados em conhecimento, já acontecia. O simples ato de poder transmitir algo, naquele momento era uma imensa satisfação.